A
Câmara Municipal de Castelo de Vide recorda hoje no seu sítio
Internet a tragédia que ocorreu precisamente há 50 anos durante a
visita do Presidente da Reṕública Almirante Américo de Deus
Rodrigues Thomaz. Um acidente com o lançamento de foguetes que
provocou um forte rebentamento que provocou a morte de duas alunas da
escola primária sobre as quais literalmente saltou a porta na base
da Torre do Relógio.
Fê-lo
através de um artigo assinado por Carolino Tapadejo que a seguir se
publica na íntegra, com a devida vénia.
A
Redacção do NCV
31 de Maio de 1963,
dia de Tragédia em Castelo de Vide
Tudo
estava preparado para ser um dia de festa, com a recepção ao
Presidente da República, Almirante Américo Tomaz.
A
Carreira de Cima engalanou-se para receber o Chefe de Estado mas,
rapidamente, tudo se transformou em tragédia, porque depois da
recepção nos Paços do Concelho e já com a comitiva presidencial
de saída da Vila, rumo à Quinta do Prado, onde iria ser servido o
almoço, ouviu-se um enorme estrondo vindo da torre do relógio. De
imediato instalou-se o pânico, com toda a gente desorientada, sem
saber o que fazer nem para onde ir. Viam-se elementos da GNR e da
PIDE de arma em punho, pois, numa primeira reacção pensaram
tratar-se de um atentado. Foi rebate falso pois o que aconteceu, foi
que dois funcionários da Câmara, encontravam-se no telhado do
edifício a deitar foguetes e morteiros, quando um foguete, em vez de
subir, entrou para dentro da torre através da janela do sino e veio
a rebentar no seu interior, provocando a detonação de alguns
morteiros que se encontravam guardados por detrás da porta da torre.
Como resultado da detonação, a porta da torre rebentou,
projetando-se para o exterior, atingindo duas meninas da escola que
ainda se encontravam no passeio à frente da referida porta,
provocando-lhes a morte.
Eu
tinha 15 anos e encontrava-me em frente da porta onde hoje funciona a
tesouraria municipal, acompanhando o Mestre João Mouta e o José
Samarra, que ostentava o pendão dos Ferreiros.
Recordo-me
de olhar para o cimo da torre, o mostrador do relógio já havia
desaparecido e os ponteiros apontavam na direção da rua de Marmelo.
Momentos depois, vi passar as duas meninas nos braços de dois
bombeiros, o comandante Carlos Santos e o enfermeiro Augusto Rainho
que seguiam na direção do Hospital da Misericórdia.
Ao
tomar conhecimento da tragédia, o Chefe de Estado, cancelou o almoço
e a continuação da visita para Castelo Branco, passando ainda pelo
hospital a fim de se inteirar do estado das vítimas, sendo-lhe aí
confirmado o resultado da tragédia. O acidente viria ainda a
provocar outras vítimas com ferimentos vários.
Mais
tarde o Presidente da República voltaria a Castelo de Vide,
colocando duas palmas em bronze nas campas das malogradas crianças.
Porque
não mais saiu da minha mente o horror daqueles momentos terríveis,
quero deixar aqui o meu testemunho na data em que se evoca o 50º
aniversário de tão fatídico acontecimento.
Castelo
de Vide, 31 de maio 2013
Carolino
Tapadejo


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