31 de maio de 2013

Efemérides:
Câmara Municipal recorda tragédia de há 50 anos

A Câmara Municipal de Castelo de Vide recorda hoje no seu sítio Internet a tragédia que ocorreu precisamente há 50 anos durante a visita do Presidente da Reṕública Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz. Um acidente com o lançamento de foguetes que provocou um forte rebentamento que provocou a morte de duas alunas da escola primária sobre as quais literalmente saltou a porta na base da Torre do Relógio.
Fê-lo através de um artigo assinado por Carolino Tapadejo que a seguir se publica na íntegra, com a devida vénia.
A Redacção do NCV

31 de Maio de 1963, 

dia de Tragédia em Castelo de Vide

Tudo estava preparado para ser um dia de festa, com a recepção ao Presidente da República, Almirante Américo Tomaz.
A Carreira de Cima engalanou-se para receber o Chefe de Estado mas, rapidamente, tudo se transformou em tragédia, porque depois da recepção nos Paços do Concelho e já com a comitiva presidencial de saída da Vila, rumo à Quinta do Prado, onde iria ser servido o almoço, ouviu-se um enorme estrondo vindo da torre do relógio. De imediato instalou-se o pânico, com toda a gente desorientada, sem saber o que fazer nem para onde ir. Viam-se elementos da GNR e da PIDE de arma em punho, pois, numa primeira reacção pensaram tratar-se de um atentado. Foi rebate falso pois o que aconteceu, foi que dois funcionários da Câmara, encontravam-se no telhado do edifício a deitar foguetes e morteiros, quando um foguete, em vez de subir, entrou para dentro da torre através da janela do sino e veio a rebentar no seu interior, provocando a detonação de alguns morteiros que se encontravam guardados por detrás da porta da torre. Como resultado da detonação, a porta da torre rebentou, projetando-se para o exterior, atingindo duas meninas da escola que ainda se encontravam no passeio à frente da referida porta, provocando-lhes a morte.
Eu tinha 15 anos e encontrava-me em frente da porta onde hoje funciona a tesouraria municipal, acompanhando o Mestre João Mouta e o José Samarra, que ostentava o pendão dos Ferreiros.
Recordo-me de olhar para o cimo da torre, o mostrador do relógio já havia desaparecido e os ponteiros apontavam na direção da rua de Marmelo. Momentos depois, vi passar as duas meninas nos braços de dois bombeiros, o comandante Carlos Santos e o enfermeiro Augusto Rainho que seguiam na direção do Hospital da Misericórdia.
Ao tomar conhecimento da tragédia, o Chefe de Estado, cancelou o almoço e a continuação da visita para Castelo Branco, passando ainda pelo hospital a fim de se inteirar do estado das vítimas, sendo-lhe aí confirmado o resultado da tragédia. O acidente viria ainda a provocar outras vítimas com ferimentos vários.
Mais tarde o Presidente da República voltaria a Castelo de Vide, colocando duas palmas em bronze nas campas das malogradas crianças.
Porque não mais saiu da minha mente o horror daqueles momentos terríveis, quero deixar aqui o meu testemunho na data em que se evoca o 50º aniversário de tão fatídico acontecimento.
Castelo de Vide, 31 de maio 2013

Carolino Tapadejo

Sem comentários: