Francisco António Flores Bugalho viria a revelar a seu valor intelectual no campo das letras, como poeta, assinando com o pseudónimo "Cristovam Pavia".
Tímido e introvertido por natureza, mas dotado desde novo de notável apetência para as coisas do espírito, era filho do Dr. Francisco José Lahmeyer Bugalho e de Guilhermina Mimoso Flores Bugalho, neto paterno de Francisco José Bugalho e de Sofia Lahmeyer Bugalho, e materno do Professor Doutor António Pereira Flores e de Cecília Baptista Mimoso Flores.
Recebeu o sacramento do baptismo na Igreja da Senhora da Luz, junto à quinta dos seus avós maternos, em Castelo de Vide, a 2 de Janeiro seguinte, ministrado pelo Padre Severino Dinis Porto, sendo seus padrinhos o avô materno e Maria Vicência Bugalho Mouta.
Licenciou-se em filologia Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1955.
Cristovam Pavia publicou "Trinta e Cinco Poemas", o único livro de poemas em sua vida. Postumamente, por iniciativa da família e de amigos, foi publicado o volume "Poesia". © DSCordeiro/NCV
REQUIEM
(ao menino morto, eu próprio)
A tarde declina com uma luz ténue.
Estou grave e calmo.
E não preciso de ninguém
Nem a luz da tarde me comove: entendo-a.
Até as imagens me são inúteis porque contemplo tudo.
Os ventos rodam, rodam, gemem e cantam
E voltam. São os mesmos.
Como os conheço desde a infância!
E a terra húmida das tapadas da quinta...
O estrume da égua morta quando eu tinha seis anos
Gira transparente nesta brisa fria...
(Na noite gotas de orvalho sumiam-se sob as folhas das ervas)
Oh, não há solidão, nas neblinas de inverno
Pela erma planície...
E foi engano julgar-te morto e tão só nas tapadas em silêncio...
Agora sei que vives mais
Porque começo a sentir a tua presença, grande como o silêncio...
Já me não vem a vaga tristeza do teu chamamento longínquo
Já me confundo contigo.
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