A candidatura das Choças de Marvão que a Câmara Municipal submeteu às 7 Maravilhas da Cultura Popular obteve, esta semana, a validação pelo Conselho Científico do Concurso e o selo de nomeação na categoria Rituais e Costumes.
Quem percorrer a Serra de S. Mamede encontra em vários locais, mas sobretudo junto à fronteira com Espanha, testemunhos das tradicionais construções, popularmente conhecidas por choças.
Nas zonas mais raianas, certamente por influência da língua castelhana, são também conhecidas por sochas. Se da maior parte delas só hoje resta a estrutura pétrea, mais ou menos intacta, há algumas, especialmente no concelho de Marvão e Castelo de Vide, que continuam perfeitamente funcionais.
Dispersas pelos campos, ou em aglomerados, estas interessantes construções destinavam-se a diversos fins. Desde a pequena estrutura junto às terras de cultivo que serve de guarda às poucas alfaias necessárias ao amanho das terras e a dar proteção a algum gado ou a colheitas, até às choças de habitação continuada, encontramos na Serra de S. Mamede, diversas edificações que poderemos incluir no grande grupo das habitações com cobertura vegetal.
Das mais comuns, de planta circular, passando pelas quadrangulares até às raras de planta retangular, registam-se com várias dimensões, quer em planta, quer em alçado. Esta variabilidade resulta, naturalmente, dos diferentes fins a que se destinavam, independentemente da época de construção.
Nas imediações de Santo António das Areias, Porto da Espada e S. Julião é ainda possível observar algumas choças incluídas em pocilgas, destinadas a dar guarida a porcos. Estas, apresentam, na sua maioria, portas cuja altura raramente ultrapassa os cem centímetros, sendo, naturalmente a sua cobertura de dimensões reduzidas.
Na encosta norte de Marvão, por entre os grandes afloramentos graníticos e, especialmente nas imediações dos Cabeçudos e Barretos, podem encontrar-se as de maiores dimensões. Utilizadas até há pouco tempo como casas de habitação, estas choças, cujo diâmetro interno por vezes ultrapassa os cinco metros e da base ao topo do cone de cobertura chegam a atingir os oito metros, podiam encontrar-se aglomeradas formando pequenos aldeamentos.
Com uma técnica de construção rudimentar mas muito eficiente, estas choças utilizam no seu fabrico unicamente matéria-prima obtida localmente. A estrutura lítica é composta, invariavelmente, por blocos de pedra justapostos sem auxílio de qualquer tipo de argamassa. Sobre esta estrutura de pedra assentam vários barrotes, geralmente de madeira de castanho que infletindo para o interior, dão forma ao esqueleto da cobertura cónica que os irão cobrir.
Pelo Outono cortam-se as giestas que entrelaçadas e por vezes atadas cobrem completamente a estrutura de madeira previamente montada. Uma porta, por norma de castanho, possibilita o acesso ao interior formado por um só espaço. Na parte superior da porta abre-se geralmente um pequeno postigo ferrado.
Com esta técnica, obtém-se assim, uma construção impermeável, resistente aos ventos e propiciadora de um espantoso isolamento térmico. Com grande facilidade podem ser substituídas partes da cobertura, que por se encontrarem mais expostas aos elementos mais rapidamente se deteriorem.
Consideradas, nas últimas décadas, como sinónimo de pobreza, muitas foram abandonadas ou transformadas. As transformações mais comuns consistem na substituição da cobertura cónica por um telhado de uma ou duas águas revestido por placas de zinco ondulado, ou mesmo telha, alterando completamente o isolamento térmico que a cobertura vegetal facultava e inviabilizando a utilização da lareira no interior da construção, proporcionada anteriormente pela grande altura da estrutura cónica.
Na zona sul do Parque Natural da Serra de S. Mamede, onde a giesta não é tão abundante, outras soluções foram adotadas no revestimento destas construções. Fiadas de palha sobrepostas e entrelaçadas entre si substituem com algum êxito as vulgares coberturas de giesta.
As maiores dimensões, sobretudo em altura, alcançadas pelas choças da zona norte contrastam com a menor volumetria patente nas construções ainda bem vivas no concelho de Arronches.
Destaque merece ainda a significativa presença de choças quadrangulares, ou retangulares quando revestidas a palha, divergindo das de planta circular, revestidas maioritariamente por giesta e que marcam a paisagem da zona dos granitos.
As choças, construções intemporais desde sempre presentes na paisagem humanizada da Serra de S. Mamede, parecem ser testemunhos vivos das habitações pré-romanas.
Texto de Jorge de Oliveira
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