22 de março de 2014

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Água

Ribeira de Nisa, Castelo de Vide e Marvão (autor J. Calha).
Celebra-se hoje o dia mundial da água, esse elemento essencial à vida, que constitui, por isso, um bem estratégico. Não é uniforme a distribuição da água no nosso planeta. Havendo regiões onde ela é escassa, o que pode constituir um fator condicionante de menor desenvolvimento em relação a outras regiões onde ela é, senão abundante, pelo menos suficiente. Assim sendo governos e organismos intergovernamentais tem monitorizado as reservas hídricas do planeta que habitamos, sugerindo boas práticas na captação, distribuição e utilização da água com vista à preservação de tão vital recurso.
Uma azenha da ribeira da
Vide no Século IXX
(a
rquivo do Grupo de
Arqueologia da Camara
Municipal de Castelo de Vide)
Recuemos, agora, ao Portugal do século XVIII, mais precisamente a 1758, ano em que é enviado aos bispos das dioceses, que por sua vez o remeteram aos párocos das freguesias, um bem elaborado inquérito com vista a fazer um levantamento dos estragos provocados pelo recente sismo de 1755. Esse documento continha outras perguntas, cerca de sessenta, que permitiam obter dados demográficos e um conhecimento da organização político administrativa, económica, assistencial e religiosa do, então, Reino de Portugal. Estamos a falar das “memórias paroquiais setecentistas”. 
Na inventariação dos recursos naturais, lá estão as questões da água, pergunta-se sobre os cursos de água: a localização da sua nascente e foz, da sua navegabilidade, quais as espécies piscícolas que os habitam. Pergunta-se também sobre as fontes e eventuais qualidades especiais das suas águas. Coube responder, pela freguesia de Santa Maria da Devesa da vila de Castelo de Vide, ao seu pároco o padre João Ayres Baptista. 
Ilustração da roda de água de uma azenha
da autoria do Dr. Adolfo J. L. Bugalho
À pergunta sobre os cursos de água, menciona as ribeiras de São João e a da Vide, dizendo o local das suas nascentes e foz, sobre esta última ribeira refere existirem no seu curso dezassete azenhas de moer pão. Menciona ainda a ribeira de Nisa e o rio Sever. À questão das fontes começa por informar que a sua freguesia é rica em água, havendo para cima de trezentas fontes, nomeando as principais e descrevendo algumas com mais pormenor, tal é o caso da fonte da Mealhada que diz ser muito afamada pois a sua água “é experimentado remédio contra a dor nefrítica” e faz uma pequena descrição arquitetónica da mesma. 
Ornamento do
frontispício da fonte
da Mealhada (autor J. Calha)
Voltemos ao presente ano, este de 2014 da graça de Deus. Imaginemos um hipotético inquérito elaborado para saber a opinião dos munícipes do concelho de Castelo de Vide sobre o custo e a qualidade da água que corre nas torneiras das suas casas. Responderiam que o preço é justo ou que a fatura é onerada com muitas alcavalas? Que não raras vezes a água fornecida não é incolor, não cumprindo, assim, um dos critérios de potabilidade?
Continua, Castelo de Vide, a ter boas e variadas qualidades de água. Para a história ficou a evidência clínica, constatada em 1938 pelo capitão Teles de Lemos, que foi consagrando a água da fonte da Vila, como diria o padre João Ayres Baptista num “experimentado remédio” para a diabetes tipo II. Mas a avaliar pelo estado de abandono e degradação do edifício das termas da Fonte da Vila e à contaminação da água da nascente, temo que as termas de Castelo de Vide estejam definitivamente perdidas. Não existem no aquilégio termal português muitas águas com indicação para a diabetes e estima-se que em Portugal existam um milhão de diabéticos. Não fossem aqueles obstáculos teríamos em Castelo de Vide um empreendimento de turismo de saúde, usando dois adjetivos agora em voga, ancorado e sustentado.
Castelo de Vide, Março de 2014
João Calha
Bibliografia:
1. “Efemérides de Castelo de Vide” de Diogo Salema Cordeiro (Edição do Grupo de Amigos de Castelo de Vide)
2. Internet site -- memórias paroquiais de 1758 do “ C.I.D.E.H.U.S.”
3. “Uma Velha Indústria de Castelo de Vide” (subsídios para a sua história), de P.M. Laranjo Coelho (separata do jornal “ O Castelovidense”)

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