| Ribeira de Nisa, Castelo de Vide e Marvão (autor J. Calha). |
Celebra-se hoje o dia mundial da água, esse elemento essencial à vida, que constitui, por isso, um bem estratégico. Não é uniforme a distribuição da água no nosso planeta. Havendo regiões onde ela é escassa, o que pode constituir um fator condicionante de menor desenvolvimento em relação a outras regiões onde ela é, senão abundante, pelo menos suficiente. Assim sendo governos e organismos intergovernamentais tem monitorizado as reservas hídricas do planeta que habitamos, sugerindo boas práticas na captação, distribuição e utilização da água com vista à preservação de tão vital recurso.
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| Uma azenha da ribeira da Vide no Século IXX (arquivo do Grupo de Arqueologia da Camara Municipal de Castelo de Vide) |
Recuemos, agora, ao Portugal do século XVIII, mais precisamente a 1758, ano em que é enviado aos bispos das dioceses, que por sua vez o remeteram aos párocos das freguesias, um bem elaborado inquérito com vista a fazer um levantamento dos estragos provocados pelo recente sismo de 1755. Esse documento continha outras perguntas, cerca de sessenta, que permitiam obter dados demográficos e um conhecimento da organização político administrativa, económica, assistencial e religiosa do, então, Reino de Portugal. Estamos a falar das “memórias paroquiais setecentistas”.
Na inventariação dos recursos naturais, lá estão as questões da água, pergunta-se sobre os cursos de água: a localização da sua nascente e foz, da sua navegabilidade, quais as espécies piscícolas que os habitam. Pergunta-se também sobre as fontes e eventuais qualidades especiais das suas águas. Coube responder, pela freguesia de Santa Maria da Devesa da vila de Castelo de Vide, ao seu pároco o padre João Ayres Baptista.
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| Ilustração da roda de água de uma azenha da autoria do Dr. Adolfo J. L. Bugalho |
À pergunta sobre os cursos de água, menciona as ribeiras de São João e a da Vide, dizendo o local das suas nascentes e foz, sobre esta última ribeira refere existirem no seu curso dezassete azenhas de moer pão. Menciona ainda a ribeira de Nisa e o rio Sever. À questão das fontes começa por informar que a sua freguesia é rica em água, havendo para cima de trezentas fontes, nomeando as principais e descrevendo algumas com mais pormenor, tal é o caso da fonte da Mealhada que diz ser muito afamada pois a sua água “é experimentado remédio contra a dor nefrítica” e faz uma pequena descrição arquitetónica da mesma.
| Ornamento do frontispício da fonte da Mealhada (autor J. Calha) |
Voltemos ao presente ano, este de 2014 da graça de Deus. Imaginemos um hipotético inquérito elaborado para saber a opinião dos munícipes do concelho de Castelo de Vide sobre o custo e a qualidade da água que corre nas torneiras das suas casas. Responderiam que o preço é justo ou que a fatura é onerada com muitas alcavalas? Que não raras vezes a água fornecida não é incolor, não cumprindo, assim, um dos critérios de potabilidade?
Continua, Castelo de Vide, a ter boas e variadas qualidades de água. Para a história ficou a evidência clínica, constatada em 1938 pelo capitão Teles de Lemos, que foi consagrando a água da fonte da Vila, como diria o padre João Ayres Baptista num “experimentado remédio” para a diabetes tipo II. Mas a avaliar pelo estado de abandono e degradação do edifício das termas da Fonte da Vila e à contaminação da água da nascente, temo que as termas de Castelo de Vide estejam definitivamente perdidas. Não existem no aquilégio termal português muitas águas com indicação para a diabetes e estima-se que em Portugal existam um milhão de diabéticos. Não fossem aqueles obstáculos teríamos em Castelo de Vide um empreendimento de turismo de saúde, usando dois adjetivos agora em voga, ancorado e sustentado.
Castelo de Vide, Março de 2014
João Calha
Bibliografia:
1. “Efemérides de Castelo de Vide” de Diogo Salema Cordeiro (Edição do Grupo de Amigos de Castelo de Vide)
2. Internet site -- memórias paroquiais de 1758 do “ C.I.D.E.H.U.S.”
3. “Uma Velha Indústria de Castelo de Vide” (subsídios para a sua história), de P.M. Laranjo Coelho (separata do jornal “ O Castelovidense”)



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