1 de junho de 2014

As portas que Abril abriu:
descolonização/fim da guerra colonial







Realizou-se no passado dia 30 de Maio, no Centro Municipal de Cultura, uma Conferência subordinada ao título "As Portas Que Abril Abriu", sobre o tema : Descolonização/Fim da Guerra Colonial.
Na mesa dos Conferencistas, estavam o Sr. António Pita, Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide; o Dr. Diogo Serra, Coordenador da USNA/cgtp-in; o Dr. Inácio Grazina, Ex-Combatente, Director do Jornal Brados do Alentejo e Membro dos Corpos Sociais da ADFA- Associação de Deficientes das Forças Armadas; o Professor Joaquim Canário, Ex-Combatente como Oficial Miliciano e o Tenente-Coronel, Francisco Matos Serra, militar de Abril e Presidente do Núcleo do Norte Alentejano da Associação 25 de Abril.
Abriu a Sessão o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide que agradeceu a presença dos Conferencistas e elogiou a iniciativa como um tema interessante e sempre actual, não só como evocação dos acontecimentos que provocaram a Guerra Colonial, como as sequelas que resultaram dessa tragédia e que ainda existem.
De seguida falou o Dr. Diogo Serra que apresentou os Conferencistas e informou sobre o objectivo desta Conferência e sobre as restantes que se vão realizar em vários Concelhos, tendo como temas a Saúde, a Educação, a Liberdade Sindical, a Reforma Agrária e o Poder Local.
Estas Conferências estão associadas às Comemorações do 40º. Aniversário do 25 de Abril.
Logo de seguida tomou a palavra o Dr. Inácio Grazina que fez uma longa explanação sobre a constituição da ADFA, os seus objectivos e o importante apoio que tem prestado junto dos deficientes da Forças Armadas. Referiu que durante a sua mobilização no princípio da Guerra em Angola teve em mãos um jornal do ano de 1960, da UPA-FNLA em que este movimento afirmava o seu desejo de iniciar conversações com o Governo de Lisboa, mas que Salazar se remeteu ao silêncio.
No final leu uma mensagem escrita pelo Presidente da Associação, mencionando o seu apoio à iniciativa e resumindo os planos e iniciativas da ADFA.
Falou a seguir, o Sr. Professor Joaquim Canário, sobre a sua experiência como Oficial Miliciano durante a chamada "Guerra do Ultramar" e que exerceu as suas funções de combatente em Moçambique. Leu ainda um Documento elaborado na data em que a Câmara de Castelo de Vide, inaugurou no Cemitério "O Talhão dos Combatentes". O Documento original foi censurado porque acusava o Governo pela forma indevida como conduziu todo este conflito e como tratava mal os militares em combate e os ex-combatentes.
Finalmente, usou da palavra o Tenente-Coronel Matos Serra que falou também sobre a sua experiência combatente e ao mesmo tempo que foi tomando consciência da injustiça da guerra e da necessidade de alterar o rumo dos acontecimentos de acordo com os "ventos da história" . Esta tomada de consciência foi aumentando no seio dos militares que veio a resultar na constituição em 1973 do MFA- Movimento das Forças Armadas que foi o motor principal da Revolução dos Cravos.
Finalizou a sua intervenção com a leitura de um Poema de sua autoria, em que descreveu uma tragédia pessoal, vivida durante o assalto a um bastião da guerrilha e que resultou na morte injusta de uma guerrilheira.
Resumidamente foi o que foi dito pelos ilustres Conferencistas a uma plateia de mais de três dezenas de pessoas que assistiram atentos e intervenientes. A maioria era constituída por pessoas que participaram ou que tiveram familiares muitos próximos, nessa Guerra Colonial que infelizmente ceifou milhares de vidas de ambos os lados e deixou muitos outros feridos com mazelas incuráveis para o resto das suas vidas. Mas também assistiram um grupo de jovens que pediram esclarecimentos aos Conferencistas sobre alguns dos actos da Guerra que lhes suscitaram algumas dúvidas.
Dos presentes mais velhos, houve várias intervenções, focando algumas das suas experiências pessoais e a ideia partilhada por todos de que se tratou de uma guerra injusta que resultou numa tragédia colectiva que afectou ambos os povos.
Foi afirmado pelos Conferencistas e pelos presentes, terem conhecimento de vários documentos anteriores ao conflito de que o mesmo poderia ter sido evitado pelo Governo de Salazar, se tivesse aceite as propostas políticas com os diferentes povos que estavam receptíveis a iniciarem conversações directas sobre um clima de entendimento e de paz.
Como conclusão unânime, ficou a certeza histórica de que foi graças ao 25 de Abril que abriu as portas da Paz e o caminho que se tomou de imediato ( e que fazia parte de um dos três D do MFA)para a descolonização e a independência de todos os povos colonizados até àquela data. © Martins Raposo/NCV








 

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