7 de setembro de 2014

Passagem de testemunho

A cabeleireira Sofia vai cortando o cabelo a um freguês, sob o olhar atento
do barbeiro Semião que vai apresentando os clientes  e indicando as suas preferências. 
Andavam os da vila, os da Póvoa e até os do concelho de Marvão, estou-me a referir aos homens, já com grandes gafurinas e sem barbeiros que lhes valessem. Na barbearia verde o João Marmelo, o “Chinês”, cessou a sua atividade e constava-se que a do Semião tinha, há uns dias, a porta fechada. Apesar de eu ser careca, aqueles folículos pilosos localizados na nuca e nas têmporas, que teimosamente vão continuando funcionantes na cabeça dos calvos, no meu caso já tinham funcionado tempo demais sem serem desbastados, a tal ponto de ter sido por várias vezes instado pela minha mulher para ir cortar o cabelo. 
Saí de casa com rumo à rua Miguel Ferreira, a porta da barbearia do Semião estava, de facto, fechada. Fiquei por uns momentos ali especado. Eis senão quando, de uma janela lá do alto perguntam-me:
--João vens cortar o cabelo?
Respondi que sim.
-- A barbearia já não abre.
Questionei a minha interlocutora sobre a razão de tão inesperado encerramento. Disse-me ter sido por motivos de saúde do Semião. Agradeci a informação e encetei o percurso inverso. Logo ali às portas da loja do senhor Massena atualmente do Rolo encontrei um amigo, daqueles que considero fonte bem informada, a quem contei o sucedido, logo ali me disse, com aquele modo categórico com que às vezes fala, que a barbearia do Semião reabriria na próxima segunda-feira sob a gerência da empresa “Ana e Sofia cabeleireiros”. Assim foi.
A barbearia outrora do senhor Joaquim Garção onde aprenderam a arte o João Henrique e o Semião não fecha a porta, pelo menos, por agora. 
Só mais um apontamento sobre Joaquim Garção de alcunha o ”Acha Alfinetes”, homem que foi de vários ofícios, talentos e habilidades: barbeiro, caçador, criador de pássaros, amestrador de cães, fazedor de gaiolas e malas escolares (aquelas de madeira com uma pega na tampa) por último pintor. Muitos, por certo, ainda se lembrarão do “Acha Alfinetes” improvisar, ali no pelourinho, uma galeria de arte onde expunha os seus trabalhos pictóricos.
João Calha
Cortejo de oferendas que se organizou em Castelo de Vide no dia 1 de Novembro
 de 1955 lá vai o Sr. Joaquim Garção, mesmo à frente do r
ancho da Ribeira da Vide, com um dos seus cães amestrados.

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