21 de julho de 2015

Judaísmo, uma viagem no tempo

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Milhares de quilómetros separam as suas gentes, mas algo os aproxima. Castelo de Vide em tempos longínquos acolheu quatro mil judeus. Na passada quarta-feira, israelitas visitaram os lugares povoados por seus semelhantes que, mesmo não os conhecendo, lhes são tão familiares.

O salão nobre da Câmara Municipal foi escolhido para a receção do grupo de professores universitários de Israel. Com um vasto conhecimento das histórias judaicas, há sempre algo mais para aprender. O presidente da Câmara António Pita quis-lhes dar pessoalmente as boas vindas. Enquanto falava, dezenas de olhares estavam fixados em si. Alguns aproveitavam para fotografar o momento. Após alguns minutos de conversa, a palavra foi passada ao cicerone Carolino Tapadejo. Não é apenas o guia da visita, é uma personagem de Castelo de Vide que tem tanto em comum com aqueles professores...também ele tem afinidades judaicas.
Enquanto falava, as reações dos presentes eram múltiplas. A apatia pela vila que acolheu tantos judeus, entre 1336 e 1496 era visível nos seus rostos. As expressões mudavam quando se falava das perseguições destes pela Inquisição. Transpareciam as suas expressões fechadas. Alguns abanavam a cabeça, parecendo sentir a dor que os judeus sofreram outrora. Houve mesmo quem dissesse: "É muito difícil ser judeu". Após quase três séculos de perseguições, cristãos e judeus coabitam pacificamente. Muitos dos habitantes ainda não se reconhecem como judeus, mas Carolino Tapadejo explica que tem sido feito um trabalho de informação que para se assumem como tal. Ao fundo da sala alguém pergunta: "Cristãos e judeus podem casar-se aqui?". O cicerone responde: "Sim. Hoje não há qualquer problema".
Trinta e três igrejas católicas foram construídas em Castelo de Vide. O guia turístico que acompanhava o grupo, incrédulo voltou a repetir: "Trinta e três igrejas aqui? Trinta e três?". Carolino Tapadejo explicou-lhe o porquê de tanta igreja. Os cristão-novos eram obrigados a pagar quantias elevadas à Inquisição para a construção dessas capelas. São muitas as igrejas "mas não há assim tantos castelovidenses católicos praticantes", rematou.
O véu sobre a história judaica em Castelo de Vide já tinha sido levantado. Chegara a altura de seguir caminho para conhecer a judiaria. Enquanto se caminhava até à sinagoga, os visitantes paravam para fotografar as ruas estreitas e íngremes, que tanto caraterizam a vila.
Percorreu-se o interior da judiaria e mais explicações foram ouvidas no seu exterior. Apesar do cansaço que alguns professores de mais idade começavam a sentir nas pernas, a mente continuava aberta à receção de mais informação.
Caminhou-se mais um pouco. Agora era altura de conhecer a Fonte da Vila. Israelitas aproveitavam para se refrescar na água da fonte. Alguns elementos do grupo sentaram-se nos seus muros circundantes e aproveitavam para conversar um pouco, local propicio a tal. A tulipa da fonte foi "regada", pois o sol já se dirigia a passos largos para oeste e, como diziam as gentes mais antigas, a tulipa tinha de ser regada ao final da tarde para que não secasse.
Refeitos e prontos para seguir caminho, foram até ao Museu Carolino Tapadejo, museu da família do cicerone que os acompanhava. Conheceram a atividade de ferragem, oficina que estava na sua família há quinhentos anos.
A mente queria mais, mas as pernas de alguns professores já não o permitia. O leque de informação que lhes fora dado era extenso, mas Castelo de Vide tem muito mais para oferecer. A viagem ao judaísmo de gentes distantes foi de beleza imemorável para todos, certamente. O resto ficará para conhecer, quem sabe, numa próxima visita! © CMCV/NCV
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