17 de setembro de 2015

“Relatório pessoal de um passeio cultural”:
observação astronómica no Forte de São Roque
organizada pelo Grupo de Amigos

Batiam as nove badaladas no relógio da torre da câmara e já todos os participantes no passeio cultural, promovido pelo Grupo de Amigos de Castelo de Vide faziam um círculo entre a Casa do Morgado e a oficina museu Mestre Carolino Tapadejo.
A presidente da Direção do Grupo de Amigos, Maria do Carmo Alexandre, fez breves considerações sobre aquela associação, o programa daquela noite e a apresentou-nos os guias Nelson Almeida, arqueólogo de formação e Acácio Lobo, agrónomo de formação e astrónomo por paixão, à apresentação deste último todos demos uns passos para a frente ou para trás para melhor perscrutar o céu, mas nada, um, arreliador e uniforme, manto de nuvens altas não deixava ver uma estrela que fosse.
Logo ali o Acácio confirmou o que todos suspeitávamos, com aquelas condições atmosféricas não era possível qualquer observação astronómica. O grupo pôs-se em marcha subindo o que faltava da rua Nova para chegar à Carreira de Cima. Primeira paragem, frente ao “lajedo” o nosso arqueólogo falou-nos dos muitos habitantes de Castelo de Vide que no século XVIII em poucos dias ali foram sepultados por terem falecido com peste, infetados que foram por soldados de um exército de castelhanos e franceses que por aqui passou durante uma invasão a Portugal.
Prosseguimos pela rua principal afora, entramos no jardim grande, segunda paragem com o convento de São Francisco já ali em frente. O Nelson fala-nos, agora, das muralhas que cercavam a vila e de uma porta que ali perto existiu. Subimos pelo Calvário, sempre com a cintura muralhada à vista até que chegámos ao Largo de São Roque, aqui, virados para noroeste seguimos, com o olhar, a linha reta formada pela corredoura, que nos vai conduzir ao hegemónico torreão do castelo que, à noite, iluminado, ganha um aspeto mais majestoso.
O nosso “restaurador da história” fala-nos do Forte de São Roque. Como a minha infância tivesse passado por ali, testemunhei o encanto daquela singela festa do São Mamede que anualmente ali se fazia, em que bebíamos leite de cabra, recém-ordenhado dum rebanho que o cabreiro dum lavrador ali conduzia no dia da festa. De como aquele terreiro se transformava na “monumental de São Roque” onde residentes da vila e de localidades próximas mostravam as suas habilidades tauromáquicas e, não raras vezes, eram brindados pelas vacas e garraios com uma dolorosa sopa de corno. E aquelas “futeboladas” em que, ainda bem não, e involuntariamente, um avançado fazia um chapéu, não ao guarda-redes, mas ao muro do quintal da senhora Alexandrina. Esta, atenta guardiã da sua horta rapidamente repunha em jogo, já não a bola de borracha, mas as duas calotes esféricas que resultaram da perícia e fúria com que a golpeava. Desta maneira foram interrompidas algumas partidas sem direito a protesto, mas com alguns impropérios dirigidos, por parte dos jogadores, à senhora Alexandrina.
Franqueamos, então, a porta do forte passando de fronte da capela de São Roque e juntámo-nos perto do depósito da água, que outrora, fazia o abastecimento público a Castelo de Vide. Era naquele preciso local que estava previsto colocar o telescópio para fazermos, sob orientação do astrónomo as nossas observações, mas fosse Urano ou fosse lá quem fosse, correu, nessa noite, as persianas do quinhão de abóboda celeste que por cá nos cabe, para só as voltar a abrir no dia seguinte. O nosso assistente de astronomia ainda nos apontou a direção onde haveríamos de observar algumas constelações e mais nada pôde fazer. Sempre direi ao “nosso Galileu” adaptando um velho aforismo, sim, porque tudo se pode adaptar, que “há mais astros que astrónomos” e bem vistas as coisas, já faltará menos de um ano para a próxima edição do Astrovide.
Por fim o piquenique de iguarias locais: empadas, boleima, broas de mel, tudo do bom e do melhor. Como a noite estava a ficar fresca, digo mesmo fria, uma reconfortante “ginjinha” cuidadosamente acondicionada numa bonita e antiga garrafa do tempo de uma das avós do casal Candeias, Maria da Conceição e João Filomeno. Ainda uma autoapresentação dos participantes e finalmente o brinde da praxe a todos os presentes.
Castelo de Vide, a poucos dias do começo do Outono de 2015

João Calha

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