Apetece-me falar um pouco dos tempos
idos em Castelo de Vide e do calendário litúrgico católico que eu
conheci, já lá vão quase cinquenta anos!...
Porquê a Quinta-Feira Santa? Porque
sendo embora toda a semana Santa um período de grande actividade
religiosa, Quinta-Feira tinha, para além do Domingo de Ramos, uma
importância fundamental na comunidade viticastrense.
A desobriga
Logo
pela manhã, os quatro confessionários abriam-se com confessores
vindos de fora, para receber os paroquianos que quisessem “fazer a
sua DESOBRIGA”. Esta palavra, hoje em desuso, significa
“cumprimento do
preceito quaresmal da confissão anual”.
Por outras palavras, era o cumprimento do 2º e 3º Mandamentos da
Igreja:”Confessar-se
uma vez cada ano e Comungar pela Páscoa da Ressurreição”.
Para
não me alongar direi apenas que havia “fichas” na Sacristia onde
era anotada a desobriga e se procedia ao pagamento da bula
(licença canónica
para comer carne em dias de abstinência)
A Missa – Última Ceia
O lava-pés
No
fim da tarde, começo da noite, começava a Missa solene com vários
Padres e Diáconos que percorrendo a Matriz com o Santíssimo
Sacramento (sem público) entraria na nave central e o deixaria
exposto.
A
seguir à homilia o Pároco procedia à cerimónia do LAVA-PÉS a
doze idosos vindos do Asilo Almeida Sarzedas ou invisuais do Asilo de
Nossa Senhora da Esperança, simbolizando o quadro que Cristo fez aos
seus Apóstolos.
A Festa da Eucaristia e o Dia do
Pai
E
tudo continuava em clima de festa, esquecendo-nos que estávamos em
plena Quaresma. Não é por acaso que Quinta-Feira Santa medeia a
Quaresma com o chamado TRÍDUO PASCAL – Sexta-Feira de Paixão,
Sábado de Aleluia e Domingo da Ressurreição ou de Flores.
Durante
a Festa da Eucaristia o Pároco envia uma BENÇÃO A TODOS OS PAIS,
pois, era neste dia que em Castelo de Vide se comemorava o dia do Pai
e os filhos oferendavam o seu progenitor.
A procissão de Visitação das
Igrejas
Terminada
a Missa, o Santíssimo seguia em procissão curta, sob a umbela, para
São João, onde permanecia e permanece até Sábado de Aleluia.
De
regresso à Matriz, iniciava-se a procissão de Visitação das
Igrejas que passava por quase todas.
A Senhora da Soledade
Era
já quase meia-noite e ainda havia uma cerimónia a cumprir. A imagem
da Senhora da Soledade tinha que ser transportada do Hospital de
Santo Amaro (sua residência) para o Calvário, pois, no dia seguinte
teria de acompanhar o Enterro se Seu Filho.
Era
assim noutros tempos…
António
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11
de Abril de 2017
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