18 de maio de 2020

Centro Paroquial de Assistência de Castelo de Vide: carta aberta aos pais na véspera de reabertura da creche


Na véspera da reabertura da creche do Centro Paroquial de Assistência de Castelo de Vide, foi endereçada aos pais uma “carta aberta” subscrita pelo padre Marcelino Marques e pelas doze colaboradoras do centro, que a seguir se publica na íntegra. © NCV
Carta Aberta aos Pais 
“ O caminho faz-se caminhando…”
Iniciámos este caminho de regresso a esta nova normalidade. Fomos todas testadas e, após uma espera dolorosa, recebemos com imensa alegria e alívio, os testes negativos.
Estamos prontas e vamos focar-nos; vamos fechar os olhos e olhar para dentro porque nós sabemos o que está certo e precisamos ter coragem; vamos aprender a comunicar com o olhar…
O desenvolvimento infantil não pode sofrer os danos irreversíveis da pouca interacção com crianças tão pequenas (entre elas e com os adultos). A história já nos mostrou o que acontece a crianças privadas de afecto e nós não podemos cometer os mesmos erros.
Agora chegou a nossa vez, está nas nossas mãos, como profissionais de educação, mas também nas vossas, Pais; nós vamos precisar do vosso apoio e confiança. Reforçamos a confiança, pois neste momento esta tem de ser recíproca; uma boa relação escola/família irá garantir o bem-estar das crianças, fim único da nossa ação.
Vamos todos “CUIDAR DE QUEM CUIDA”, pais e profissionais que cuidam das crianças, com o objetivo primordial que é o superior interesse da criança, bem como o seu desenvolvimento harmonioso.
Vamos apagar o ruído à nossa volta e vamos fazer aquilo que sabemos que as crianças precisam e nós sabemos que as crianças não podem estar distantes.
Não vamos andar ansiosas com a sensação de que o “bicho mau” está em cada esquina da nossa escola e em cada brinquedo tocado; não vamos passar este clima de ansiedade às crianças. Não vamos viver em função do receio e sabemos que não vamos ser culpadas se alguma criança ou adulto adoecer, pois estamos a fazer o melhor que sabemos, apesar de por dentro também sentirmos alguma inquietação e insegurança, tal como vocês Pais.
Assim, vamos aproveitar o “sempre que possível” das normas da DGS para dar espaço ao “agora não foi possível”, todas as vezes que for preciso.
Mesmo com o rosto tapado, vamos acolher os vossos filhos da melhor forma que conseguirmos, mas sempre com o mesmo espírito caloroso, afetivo; as nossas palavras serão calmas, os gestos tranquilos para minimizar cada momento mais aflito e desesperado.
Os abraços não são recomendados, mas é impossível não o fazermos; é impossível não dar o ombro para acalmar uma criança; é impossível criar o afastamento de segurança; é impossível simplesmente…são crianças!!!
Com o dia a passar, as crianças vão brincar cada vez mais, vão tocar brinquedos e nós, adultos, não as vamos afastar. Brincar é poder relacionar-se, envolver-se; brincar é tocar, é sentir, é cheirar, é abraçar; brincar é creche…
Vamos esfregar e lavar as mãos, mas o colo vai estar lá sempre que for necessário.
Vamos ajudar na hora das refeições e vamos embalar as crianças na hora da sesta, chamando o “João Pestana” que, às vezes; teima em não chegar.
As rotinas vão sofrer mudanças, vai haver toda uma readaptação: o toque vai ser menos frequente; o sorriso, escondido pela máscara, continuará sempre presente e os olhos vão aprender a sorrir.
Vamos arregaçar as mangas para minimizar qualquer fragilidade que possa acontecer; vamos diariamente fazer e dar o nosso melhor, pois esta é a nossa forma de estar: criar momentos de verdadeiro acolhimento, afeto, proximidade e relação.
Por mais diretrizes, normas e orientações que surjam, nós sabemos o que temos de fazer; é esta a nossa profissão e nós vamos agir! Vamos estar todos juntos- escola e família- e vamos crescer…
Vamos contar convosco Pais para tornarmos a educação de infância um espaço seguro e confiante, mesmo com todas as questões que nos inquietam.
Nós, aqui, continuaremos a fazer a nossa viagem, o nosso caminho…continuaremos a ser aquilo que sempre fomos, profissionais que exigem qualidade e que fazem o possível e o impossível para o concretizar porque estamos unidas e não conformadas! Nunca iremos acatar simplesmente; defenderemos as nossas crianças até ao fim, já que elas não o podem fazer…
Relembramos que, no primeiro dia de escola as crianças devem trazer: mochila com duas mudas de roupa; sapatos para usar na creche (crocs); bibe (excepto no berçário); objecto de transição (caso use) em duplicado para ficar na creche; chupeta com corrente lavável em plástico (tecido não!); garrafa de água pequena, ¼ litro, com pipeta (Luso, Vitalis, Fastio…).
Aos Pais pedimos: uso de máscara obrigatório; serenidade, honestidade, segurança e confiança!
E não esqueçamos a viagem e o caminho que começam agora: 
“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam…O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já” (António Saramago).
Estamos aqui e não vamos ceder…vamos fazer o caminho, caminhando, um dia de cada vez..
Castelo de Vide, 17 de Maio de 2020
Padre Marcelino Marques
Susana Carreiras, Vera Soldado, Inês Calha, Francisca Botelheiro, Ana Gargaté, Cândida Rouqueiro, Ana Maria Belo, Maria João Andrade, Maria José Tavares, Dionísia Mimoso, Luz Prezado e São Canelas.

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