“Ainda
que a AMF-Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário não
seja, aparentemente, uma
associação generalista, não pode deixar
passar em branco, como os amigos do caminho de ferro que a
integram,
mais um atentado contra o património ferroviário nacional na forma
do actual encerramento
de muitos quilómetros de linha, “para bem
das finanças públicas”.
A
história não é nova nem mesmo os argumentos utilizados que são os
mesmos que ditaram o fecho de
933 km de linhas entre 1987 e 1992.
Dizia-se no final dos anos 80 do século XX que deixar cair 1/3 da
rede ferroviária era “para permitir investimento nas restantes
linhas” e assim ganhar tráfego “onde o
comboio tinha vocação”.
Em 1988 transportavam-se 232 milhões de passageiros em Portugal. Em
2009
transportaram-se “só” 131 milhões. Onde estão os ganhos
de tráfego e o investimento?
Mas
também não nos espanta que muitos políticos que tiveram culpa
formada na situação continuem,
passados tantos anos, a enganar
sistematicamente as populações e estas a aplaudi-los de uma ou de
outra maneira. Não vale de nada todos nós brandirmos “armas”
contra a CP ou contra qualquer outra
empresa ferroviária
supostamente com” culpas no cartório” porque, de facto, todas
elas são “paus
mandados” dos governos e só a eles obedecem. A
nossa opinião, como Associação de âmbito
ferroviário, não é
movida por ideais políticos, nem podia ser, mas sim pelos direitos
que nos assistem
como elementos da sociedade civil que gosta de
caminho de ferro. No entanto, não nos podemos
esquecer que “as
papas e bolos” que outrora os mesmos políticos (e sempre eles)
“atiraram” às
populações das linhas do Nordeste Transmontano,
do Alentejo etc. surtiram, infelizmente algum efeito.
Com as
promessas de auto-estradas a passar em cada aldeia e melhores acessos
rodoviários, muitas
delas venderam-se ao “inimigo” e permitiram
que se acabasse com o comboio nas suas zonas.
Tardiamente
acordaram para o “presente envenenado” que tinham recebido. Os
responsáveis políticos
esfregaram, então, as mãos de
contentamento até porque sabiam a que tipo de populações se
dirigiam,
todas elas sem poder reivindicativo, de parcos recursos
económicos e de uma faixa etária elevada. Os
mais jovens,
inebriados com um novo automóvel mesmo sem terem condições para o
manter,
esqueceram o comboio.
Neste
momento, passados já alguns anos do anterior atentado contra o
património ferroviário nacional
muitas populações, infelizmente,
“tarde piaram”. E os responsáveis pelas decisões, utilizando
os
mesmos subterfúgios anteriores voltaram a vencer. Durante todos
este anos deram ao “zé povinho”
milhares de quilómetros de
estradas, possibilitaram-lhes a compra de automóveis, sendo o
caminho de
ferro relegado para um plano secundaríssimo. Aliás,
para muitos, para quê o comboio, um transporte do
“pé descalço”(
ao contrário do que se passa por toda a Europa civilizada), se podem
confortavelmente
utilizar as suas viaturas nas magníficas estradas
que puseram à sua disposição? E se ouvem alguém
reivindicar o
comboio, um bem público, logo o identificam como pertencente ao
partido amarelo, roxo
ou “cor de burro quando foge”, inimigos da
livre iniciativa privada.
Temos
de reconhecer que, na verdade, o caminho de ferro em Portugal e na
mente da maioria das
populações, é uma coisa de pouco peso. E
aproveitando essa mentalidade, mais facilmente o jogo
político pode
tomar atitudes como o encerramento indiscriminado de linhas e o corte
de serviços
ferroviários, contribuindo para a desertificação do
interior, com reduzida oposição ou com contestação
tardia. É
que o caminho não dá votos nem dinheiro a ganhar.
Para
nós, amigos do caminho de ferro acima de tudo e depois de já termos
assistido a algo semelhante
há anos atrás, só podemos sentir,
neste momento, uma revolta imensa contra a situação e
solidarizarmo-nos com todas as populações afectadas por mais este
“assassínio”, com culpados
identificados mas, infelizmente e
mais uma vez, sem punição.
Viva
o Caminho de Ferro”.
A
Direcção da AMF-Entroncamento, Janeiro de 2011
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