3 de novembro de 2011

Conferência de Imprensa na Estação da Beirã-Marvão: autarcas portugueses e espanhóis contra anunciada desactivação do Ramal de Cáceres

A estação de Marvão-Beirã.



Por iniciativa da Câmara Municipal de Marvão, realiza-se no próximo dia 4 de Novembro (sexta-feira), pelas 10:30 horas, uma conferência de imprensa na Estação dos Caminhos de Ferro da Beirã – Marvão, “onde estarão presentes os autarcas portugueses e espanhóis que representam os municípios abrangidos” pela anunciada decisão do Governo português de desactivar o Ramal de Cáceres, o “que contribuirá para a desertificação do interior dos dois países”, como refere um comunicado da Autarquia marvanense.
O comboio faz parte da história do nosso concelho há 131 anos, o que tanto orgulha e caracteriza o concelho de Marvão e a freguesia de Beirã”.
Ao que o NCV conseguiu apurar, da Câmara Municipal de Castelo de Vide estará presente o seu Vice-presidente, António Pita.
Decisões meramente economicistas”
É nosso objectivo evitar novamente o fecho de mais um serviço, e consequentemente o isolamento e desertificação de uma das zonas mais desfavorecidas do Alentejo. Mais uma vez o interior é esquecido e prejudicado pelas tomadas de decisões meramente economicistas”.
O governo português pretende no final do ano desviar (via fronteira de Vilar Formoso) o comboio “Lusitânia Comboio Hotel” que faz a ligação Lisboa – Madrid e desactivar o Ramal de Cáceres, a manter-se este cenário e tratando-se de um comboio internacional, é sem dúvida uma grande perda para a freguesia de Beirã, concelho de Marvão e todo o distrito de Portalegre, uma vez que é um comboio com serviço comercial na estação de Marvão – Beirã que serve todo distrito de Portalegre, pelos turistas que traz para Portugal e que, por vezes, permanecem no distrito. Para além disso é muitas vezes este o comboio que os passageiros do dia-a-dia utilizam para se deslocarem, uma vez que não existe serviço regional de passageiros no ramal de Cáceres”.
A manter-se esta decisão as estações de Marvão – Beirã, Valência de Alcântara, Navalmoral de la Mata e Talavera de la Reina ficam sem este serviço ferroviário de elevada qualidade”.
A estação de Castelo de Vide.
Isolamento, desertificação e empobrecimento da região”
Tendo em conta as directrizes da União Europeia que apontam para uma promoção cada vez maior do transporte ferroviário por este ser mais ecológico e mais económico, não entende-mos as políticas adoptadas pelo actual governo, que apenas tem em consideração a vertente económica / rentabilidade, promovendo assim o isolamento, a desertificação e o empobrecimento da região, ainda mais num momento de crise económica e social, a que se junta o elevado custo dos combustíveis e as portagens nas auto-estradas, ou seja, as medidas anunciadas pelo actual governo em relação à desactivação do Ramal de Cáceres são inaceitáveis e com graves impactos económicos e sociais para os utentes e para o desenvolvimento da região, é preciso não esquecer que o Nordeste Alentejano é das regiões mais pobres e sacrificadas do País em termos de investimento público, não nos parece justo e correcto que o estado mais uma vez descrimine o Alentejo para baixar o endividamento, porque a manter-se esta decisão da desactivação do Ramal de Cáceres estamos perante um erro irreparável, porque mais uma vez também aqui o estado toma a decisão mais simples, mais cómoda, que é sempre o de fechar serviços”.
Ramal de Cáceres como eixo alternativo?
Entendemos sim, que o Ramal de Cáceres, deve ser potencializado e encarado como um eixo alternativo às actuais (e futuras) ligações internacionais ferroviárias, que são escassas, permitindo a fluidez e o aumento dos fluxos internacionais de mercadorias e de passageiros”.
Foram investimentos feitos no passado que devem ser potencializados e não encerrados, e que devem ser colocados ao serviço das populações e das economias regionais e nacionais. Acresce, por outro lado, que este ramal pela beleza das suas paisagens e estações tem potencialidades turísticas que deveriam ser aproveitadas e não anuladas”.
130 anos de história
A ligação por via-férrea entre as duas capitais peninsulares ficou estabelecida em 1 de Outubro de 1866. Era porem longo o percurso a percorrer, visto este fazer-se através da fronteira de Elvas. Aliás, o enlace com Madrid foi uma das primeiras preocupações dos pioneiros do caminho-de-ferro.
Desde logo se pensou em encurtar a distância por via-férrea entre Lisboa e Madrid, com este propósito, iniciaram-se no ano de 1878 os trabalhos de construção de um novo troço de linha férrea, o qual, separando-se da Linha do Leste em Torre das Vargens, viria a entroncar na rede ferroviária do país vizinho na estação de Arroyo – Malpartida, na província de Cáceres e próximo desta cidade, a qual veio a dar o nome ao novo ramal:“Ramal de Cáceres”.
No lado português, a extensão deste ramal é de 72,4 km.
A inauguração oficial até a estação de Marvão – Beirã efectuou-se em 6 de Junho de 1880, do lado espanhol a construção demorou algo mais, pois só em 1881 o caminho-de-ferro chegou a Valência de Alcântara.
A partir de então, este itinerário tem constituído a principal união ferroviária entre Portugal e Espanha.
A verdade é que a distância mais curta entre Lisboa – Madrid é feita através do Ramal de Cáceres!”. © NCV

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