Póvoa e Meadas está de luto e mais pobre. Faleceu António Ferreira, uma figura local que foi o último pregoeiro da aldeia. Funcionário municipal aposentado foi também um conhecido "guardião do S. Martinho". Nasceu a 13 de Janeiro de 1928 na aldeia em que viveu e faleceu.
Nesta ocasião, publicamos a seguir um texto de Manuel Isaac, director do jornal "Alto Alentejo" ali publicado em 2006, acompanhado de diversas fotos suas.
“Tem 74 anos e ainda no ano passado deitou
um pregão de venda de azeite e de marmelos.
O pregão era uma instituição e até há
quatro ou cinco anos era habitual na Póvoa ouvir-se António Ferreira a apregoar
a cada esquina.
Funcionário da Câmara, agora já reformado,
também governou a vida como pregoeiro. «Ou se comprava ou se vendia azeite, ou
porque havia uma reunião, quando alguém perdia alguma coisa, quando andava um
animal perdido», muitos eram os motivos justificados para se deitar um pregão,
espacialmente «do que se vendia».
E isto não era feito de qualquer modo, mas
sim com regras. Os pregões eram 14, um em cada cruzamento, e António Ferreira
começou lá pelos 30 anos a ser pregoeiro. «Dinheiro era conforme calhava. Era
conforme as pessoas. Às vezes era de graça, outras vezes era 500 escudos (2,5
euros), conforme a cara do freguês.
«Quem quer comprar boa batata a 50€ quilo,
vá a casa de fulano que está lá a vender», é o pregão que António inventa no
momento para exemplificar o que poderia neste momento ir anunciar aos 14
cruzamentos da terra.
E não se pense que não havia concorrência,
pois «chegou a haver mais três pregoeiros, o Ti Zé Mourinha, o Ti Francisco
Castro e outro que agora não me lembra o nome».
Insólito foi quando, lá pelos fins de 70,
apregoou o Imposto Complementar (antecedente do IRS).
António Ferreira não sabe bem porquê, mas
se calhar porque as pessoas da Póvoa não iam meter os papéis do Imposto a
Castelo de Vide, «lá das Finanças mandaram-me lançar o pregão» e «por aí andei
a apregoar: quem quiser meter fazer os papéis do Imposto Complementar deve ir
às Finanças a Castelo de Vide».
E quem diz que o pregão não era uma
instituição?”
Manuel
Isaac
(texto publicado em 2006
no Alto Alentejo)
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