20 de outubro de 2013

Ruy Ventura publica cadernos sobre
“Literatura Tradicional da Serra de São Mamede”

Ruy Ventura recolheu e organizou a obra “Literatura Tradicional da Serra de São Mamede” que já começou a ser editada em cadernos pela pela Apenas Livros, em Lisboa.
A publicação destes cadernos faz-se na colecção “À mão de respigar” e com apoio do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional e da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Já estão publicados dois cadernos: um sobre “Romances religiosos” (47 páginas) com versões recolhidas em: Carreiras, Carvalhal, Castelo de Vide, Escusa, Fortios, Portagem, Portalegre, Porto da Espada, Rasa, Reguengo, Ribeira de Nisa, São Julião e São Salvador da Aramenha, e outro sobre “Orações, encomendações, ensalmos e esconjuros” (68 páginas) com versões recolhidas em: Alegrete, Carreiras, Carvalhal, Castelo de Vide, Escusa, Fortios, Portagem, Portalegre, Porto da Espada, Póvoa e Meadas, Rasa, Reguengo, Ribeira de Nisa, São Julião, São Salvador da Aramenha e Urra.
Está previsto pelo menos mais um terceiro caderno sobre “Lendas”, de Alegrete, Alvarrões, Aramenha, Besteiros, Carreiras, Castelo de Vide, Escusa, Fortios, Marvão, Portagem, Portalegre, Porto da Espada, Reguengo, Ribeira de Nisa, Serra de São Mamede e Urra.

Os dois primeiros cadernos podem desde já ser adquiridos online AQUI e AQUI, respectivamente pelo valor de 4,15 euros e 4,80 € (6% de IVA incluído). © NCV

Sistematização e classificação 
do património literário oral
Com este opúsculo se inicia a edição de uma parte da literatura tradicional da serra de São Mamede, espaço do Nordeste Alentejano encostado à fronteira da Extremadura espanhola que compreende os concelhos de Castelo de Vide, Marvão e Portalegre. Constituindo uma tentativa de sistematização e classificação do vastíssimo património literário oral que se foi produtransmitindo ao longo de séculos nessa região, não tem contudo esta publicação e outras que se sigam propósitos de exaustividade. Se se procura dar divulgação impressa ao maior número possível de textos e variantes, o organizador desta iniciativa tem consciência de que muito ficará por apresentar nestas páginas sem pretensão.
Este caderno pediria um estudo introdutório que enquadrasse os textos e a região onde foram produzidos e/ou difundidos. Não é este contudo o tempo nem o espaço para tal empreendimento. Com um mínimo de aparato fica assim disponível uma parte da memória colectiva desses três municípios em que a desertificação demográfica, social e cultural vai acentuando uma inquietante erosão cuja velocidade vertiginosa levará decerto à perda da maior parte destes textos, quebrada que está quase por completo a sua cadeia de transmissão.
Publicar este conjunto de artefactos literários é, também, conservá-los e dar-lhes um pouco de sopro vivificador, embora permaneça a angústia de ver obras vivas e abertas transformadas em múmias ou relíquias, pertencentes a um tempo rural e cíclico que nunca mais voltará tal como muitos de nós ainda o conhecemos. Talvez assim, contudo, tenham nova existência – e uma garantia de futuro.
A transmissão de uma boa parte dos textos de literatura oral deveu-se às mulheres que, anonimamente, quase em segredo, foram mestras na sua memorização e na sua reprodução criativa. É por isso inteiramente justo que dedique este primeiro caderno a quem continua a ensinar-me e a incentivar-me (Felicidade Ventura, minha mãe; Maria Tavares Transmontano e Maria Guadalupe Alexandre, amigas e investigadoras, tão atentas quanto discretas) e a quem já faz parte do meu panteão pessoal, por dívidas imateriais que nunca pagarei (Rosária da Conceição Pedro, minha avó materna; Maria Josefa Baptista, minha avó paterna; e Maria da Liberdade Fernandes Alegria, minha amiga de quase quarenta anos; que a terra lhes seja leve).
Ruy Ventura
(introdução geral, no primeiro caderno)

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