O Executivo Municipal aprovou por unanimidade na sua última reunião, na passada quarta-feira dia 18 do corrente, um voto de pesar pelo falecimento de Mário Soares.
A iniciativa pertenceu aos vereadores do Partido Socialista, Tiago Malato e Paulo Morais e incidiu sobre um texto que acaba de ser dado a conhecer pela estrutura local do PS, e que a seguir publicamos na íntegra.
Nesse voto “o Executivo Municipal de Castelo de Vide manifesta o seu pesar expressando aos seus filhos e a todos os seus familiares os seus sentimentos. Também ao PS, pelo enorme perda do seu Fundador e militante nº1".
“Figura maior da política Portuguesa, Europeia, e Mundial, Mário Soares nasceu em 1924 em Lisboa. Desempenhou os mais altos cargos no país, estando a sua vida e ação associada profundamente à história da democracia portuguesa: - combateu a ditadura, foi fundador do PS, Primeiro-Ministro, Presidente da República e membro do Conselho de Estado, entre tantas outras funções e vocações de toda uma vida dada à vida cívica.
Filho de João Soares, pedagogo e político, católico e progressista, que o influenciou de forma determinante, Mário Soares desde cedo formou a sua convicção de antifascista e lutador. Homem corajoso, determinado e centrado nas suas convicções, a sua vida confunde-se com a vida de Portugal do último século, estando em todos os principais momentos marcantes da nossa continuada emancipação democrática.
Com 19 anos aderiu ao Movimento de Unidade Nacional Anti Fascista, ligado ao partido Comunista Português. Três anos depois integrou comissão Central do Movimento de Unidade Democrática sendo cofundador do MUD – Juvenil.
Foi secretário da Comissão Central da candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República em 1949, fundou a Resistência Republicana e Socialista em 1955 e pertenceu à comissão da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958. Candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional doEstado Novo, pela oposição Democrática.
Resistente à ditadura e ativo na organização da Oposição democrática ao salazarismo, Mário Soares defendeu e apoiou diversos presos políticos,enquanto advogado. Inclusivamente Álvaro Cunhal. Foi preso treze vezes, pela polícia política do Estado Novo, a PIDE. Passou cerca de três anos na cadeia. Casou-se preso, por procuração, com a sua mulher de sempre, Maria de Jesus Barroso.
Esteve deportado, sem julgamento, em São Tomé e exilado em Paris, sendo em 1973, um dos membros fundadores do Partido Socialista na Alemanha. Foi no exílio que escreveu a obra “Portugal Amordaçado” editado em 1972 determinando nela o seu pensamento político democrático em três eixos estruturantes: a defesa de uma democracia parlamentar, a descolonização e a adesão à Comunidade Económica Europeia, ideais pelos quais toda a vida lutou e viu concretizados.
Regressou a Lisboa três dias depois da revolução de 25 Abril de 1974. No histórico Comboio da Liberdade. Durante todo este período nunca se calou. Nunca desistiu. Soube ser firme e sempre corajoso. Sempre defendeu as suas convicções. Por vezes contra alguns companheiros, soube sempre vencer e perder com a dignidade de quem entende a democracia como uma construção permanente e sempre em discussão, e não uma vã competição. Foi homem de consensos mas também de antagonismos assumidos. Fez pontes difíceis em momentos difíceis. Nunca foi um cinzentão, qual predestinado ao pesaroso serviço a contragosto pela Pátria. Muito pelo contrário, apresentava-se de bem com a vida e certo de estar onde queria estar. Ao serviço da nação e do povo português. Político em movimento. Tanto na lota ou no mercado, como nas maiores negociações estratégicas, que contribuíram para determinar o nosso futuro. Foi assim também Primeiro-ministro, deu impulso à entrada na hoje chamada União Europeia, que ratificou no Jerónimos, em 1985, foi Presidente da República. Foi deputado Europeu.
Sempre presente, de viva voz e lucidez, na construção do Portugal Democrático e Pluralista, Mário Soares, foi destinado pela coragem, combatente de todas as horas, pela liberdade e pela democracia, antes e depois do 25 de Abril.
Imaginar que hoje são ideias normais, os desafios então descritos por Mário Soares, de descolonização, de sermos parte integrante da União Europeia, e de vivermos em democracia, revela também a envergadura de um homem que se soube colocar ao lado do Futuro de todos nós e por ele lutar, tornando sonhos e convicções em ideia banalizadas no nosso presente.
A sua vida e sua determinação é exemplo para todas as gerações sobretudo nos tempos incertos em que é urgente escolher e lutar convictamente pelos valores que acreditamos, na defesa dos valores maiores do Humanismo, dos direitos e das liberdades. Contra a tirania dos números a convicção da vida e da dignidade. Da luta pelo sonho, por um futuro comum. Em Portugal, na Europa, no Mundo. De resto a sua figura é considerada por tantos, de paragens tão distintas, que o consideraram um amigo de todas as horas.
Longe de consensos acríticos e de publicidade vazia, Mário Soares deu-nos a inspiração de que é possível cada um de nós contribuir para melhorar o mundo, em todas as dimensões, partindo do respeito profundo pela diferença e da alegria de tentar fazer sempre o melhor por convicção, com a naturalidade e alegria possível.
Com o falecimento de Mário Soares, perdemos uma das mais destacadas personalidades da nossa História Contemporânea e uma das referências políticas mais elevadas do panorama nacional e internacional a quem devemos muito do que somos hoje enquanto nação democrática. E é neste sentido que o Executivo Municipal de Castelo de Vide manifesta o seu pesar expressando aos seus filhos e a todos os seus familiares os seus sentimentos. Também ao PS, pelo enorme perda do seu Fundador e militante nº1."
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