Foto © FCAmmaia/NCV |
Construído em alvenaria de pedra seca, sem recurso a argamassas elaboradas, o edifício necessitou de frequentes remodelações ao longo do tempo, identificáveis nas distintas opções construtivas (secção de materiais, assentamento dos mesmos, etc.), mas muito difíceis de datar, para lá da observável relação de anterioridade / posterioridade. Os rebocos que revestiam a parede perimetral da arena estão conservados sobretudo sob a forma de derrube, com as argamassas amalgamadas na base da estrutura. O piso da arena instalado sobre o substrato rochoso era constituído por fina camada de saibro, resultante da desagregação da rocha local.
Os elementos que permitem datar a sua construção são escassos e concentram-se em unidades estratigráficas subjacentes ao edificado, possibilitando assim uma datação post quem, com todas as limitações que estas datações envolvem. A robusta presença de fragmentos de terra sigillata de tipo itálico, com alguns fragmentos de sudgálica,mas ausência total de hispânica; ânfora Haltern 70, com fabrico do Guadalquivir, e um bocal de ânfora Peniche 3, vinda provavelmente das olarias do Morraçal da Ajuda, sugerem fortemente uma construção ainda nos finais da dinastia Júlio-Cláudia, ainda que se não deva excluir a possibilidade de uma cronologia flávia inicial. Assim, uma datação dos meados do século I afigura-se fortemente provável.
O processo de amortização do edifício é bem visível, sobretudo pelo fechamento dos vãos de todos os compartimentos que comunicavam com a arena. Mas, uma vez mais, não é fácil datar esse momento. A presença de algumas moedas da segunda metade do século IV encontradas sobre o piso da arena sugerem que o abandono final terá decorrido em um qualquer momento a partir dessa cronologia. Curiosamente, a memória do antigo edifício lúdico cristalizou na toponímia local: picadeiro é o microtopónimo do local, embora não haja ideia ou memória de alguma vez tal finalidade ser dada àquele espaço.
A escavação e estudo do anfiteatro da Ammaia é um Projecto da Fundação Cidade de Ammaia e Fundación de Estudios Romanos, com a participação científica do Museo Nacional de Arte Romano, de Mérida, e do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), financiado pela Fundação “La Caixa”, no âmbito do Programa Promove Regiões Fronteiriças 2019.
Carlos Fabião,
in UNIARQ DIGITAL n.º 68 (AQUI)
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