Dando continuidade ao ciclo de debates “Alto Alentejo
tem futuro”, o nosso jornal viajou de Alter, onde debatemos a Coudelaria, para
o concelho vizinho, o Crato, que acolhe um dos mais antigos e emblemáticos
anseios da região, a Barragem do Pisão, um empreendimento cuja importância é
unânime e que já encheu centenas de páginas de jornais, estudos e programas
eleitorais. Foi em 1957, ano da elaboração do Plano de Valorização do Alentejo
que surgiram os primeiros estudos e, consequentemente, as primeiras
reivindicações face a um projecto que teria um impacto bastante significativo
na região, não só em termos de armazenamento e distribuição de água, mas também
nos planos agrícola, ambiental, económico e social.
Desenvolvidos entre as décadas de 60 e 80, os estudos
conduziram a diversas reformulações do projecto que incidiram quer na
substituição do sistema de rega por gravidade pela aspersão, quer na
delimitação das manchas de solos a beneficiar.
Em 1980,
a Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos
Hidráulicos propos um esquema alternativo que procurava ultrapassar os
condicionalismos apontados ao projecto, tendo sido seleccionados 6 372 ha localizados na
margem esquerda da ribeira da Seda.
Foi este o cenário de base para a elaboração do
Estudo de Viabilidade Ambiental e Económica de 2001, um trabalho em que foi
analisada uma dezena de alternativas em que variava a área a beneficiar, a
localização da barragem, bem como o tipo de adução e distribuição.
O estudo concluiu que a alternativa mais viável era a
que previa a localização da barragem em Couto de Endreiros, uma solução que
avançou para Projecto de Execução já em 2006. No entanto, os impactos positivos
da valia agrícola associados a uma área equipada de cerca de 3 240 ha
não foram considerados suficientes para, de per si, justificar os custos de investimento e de
exploração, assim como a submersão da aldeia do Pisão com a construção da
barragem.
O último estudo, solicitado à COBA pela Câmara
Municipal do Crato, teve como principal objectivo a redefinição do projecto de
modo a potenciar os seus impactos positivos, aumentando a área beneficiada e
procurando soluções de projecto que permitam diminuir os custos de
investimento, de operação e manutenção. Para além disso integrou ainda a
avaliação objectiva da necessidade da barragem do Crato para suprir os consumos
de abastecimento público previstos ao nível do sub-sistema 3 do Alto Alentejo e
a viabilidade da mini-hídrica do Crato.
A Barragem do Pisão já foi tudo. Começou como um
objectivo, rapidamente passou a utopia, a sonho, a bandeira política e foi no
sábado, mais uma vez, motivo de discussão. No debate organizado pelos jornais
“Alto Alentejo” e “A Mensagem”, com o apoio da Câmara do Crato, ficou mais uma
vez provado que o empreendimento é fundamental para a região, desejado pela
grande maioria dos autarcas, agricultores e pela população em geral e que,
provavelmente, só não está ainda a distribuir água no distrito de Portalegre
porque, ao longo de 55 anos, faltou essencialmente peso político para
reivindicar junto dos Governos que sucessivamente nos esqueceram aquilo que
era, sem dúvida, um bem precioso para a nossa região.
Depois um leque riquíssimo de intervenções técnicas,
onde se destacaram os engenheiros da COBA (Maria João Calejo, António Capelo e
José Luís Teixeira), Hemetério Monteiro, ex-administrador da Empresa de
Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA), Sá da Costa, presidente
da Associação Portuguesa de Energias Renováveis, João Paulo Mendes, da Escola
Superior Agrária de Elvas (IPP), de Aristides Chinita, gestor da Associação de
Beneficiários do Caia, de Pinto Leite, ex-director Regional do Ambiente, de
Mário Cruz, Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos, e ainda de várias
intervenções políticas, ficou bem vincado que o projecto da Barragem do Pisão
está bem vivo e que o Alto Alentejo pode estar agora mais unido que nunca para
lutar em prol daquele que ao longo da sessão foi considerado «o único
investimento visível no nosso território».
Quanto ao obstáculos, só mesmo «o desinteresse e
descriminação» por parte do Governo face ao Interior e ao distrito de
Portalegre e os cerca de 100 milhões de euros necessários para a construção de
um empreendimento que iria revolucionar completamente a região e o futuro das
suas gentes. Mas se pensarmos que este investimento representa apenas cerca de
cinco por cento do que foi injectado no Alqueva e que ainda existe um Quadro
Comunitário que pode ser explorado com o argumento que o Alto Alentejo tem sido
das regiões mais prejudicadas em termos de investimento, talvez nos seja
permitido sonhar e pensar que “a Barragem do Pisão tem futuro”.
in "Alto Alentejo"

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