11 de agosto de 2015

Castelo de Vide na Imprensa:
Café Central em reportagem do "Jornal i online"

Com texto e fotos de Marta F. Reis o Jornal i publicou no passado dia 7 de Agosto um artigo-reportagem sobre o Café Central em Castelo de Vide que, com a devida vénia a seguir republicamos.

Castelo de Vide. Da Holywood da TVI ao Verão social-democrata
Pela esplanada do Café Central da vila alentejana onde todos os anos acontece a Universidade de Verão do PSD têm passado muitas figuras públicas. É obrigatório cheirar o manjericão crescido e provar a boleima de maçã.
Quase passariam despercebidos, mas a natureza é extraordinária. Na esplanada do Café Central de Castelo de Vide, com 80 anos de história, há dois vasos com manjericão crescido como se vê em pouco lado, pelo menos em casas menos habituadas às coisas do campo e da rega. 
António Ludovino não pode deixar as visitas ir embora sem cheirarem aquela maravilha, que usam em alguns temperos mas essencialmente para decoração. Fazem parte da mobília, como as madeiras centenárias e os candeeiros de ferro que o alentejano de Alegrete conservou quando comprou o café, há quase 35 anos.
Dos tempos antigos só restam mesmo esses apontamentos, já que o cenário seria bem diferente do que encontramos numa manhã soalheira, com a esplanada cheia de locais e turistas.
“Quando começou era o café da gente rica da terra, dos doutores, dos juízes e dos brigadeiros. E só se podia entrar de gravata”, conta António Ludovino, de 63 anos. Há uns tempos passou o negócio à filha Ana Sofia mas continua a trabalhar na casa, já que fez grande parte da vida na restauração. O primeiro trabalho, aos 14 anos, foi no que era então segundo a clientela o melhor snack-bar num raio de 300 quilómetros, o bar da Estalagem de São Paulo, um espaço onde hoje funciona o Inatel.
Junto à entrada do Café Central há uma porta que diz bilhar, a lembrar a grande atracção do estabelecimento nos seus primórdios. Também se jogaria dominó com senhas e os vencedores ganhavam um café, a única bebida que se servia então na casa, conta António, que não chegou a frequentá-la nesses tempos. O negócio só passou a ser seu quando regressou do Ultramar e se fixou na terra, no início dos anos 80.
Mas do seu antigamente também tem algumas memórias caricatas. “Às senhoras servíamos vinho em bules de chá para disfarçar”, ri-se. O que aliás parece que era tradição em muita pastelaria por esse país fora. “Trabalhei em Lisboa e sei que pelo menos faziam isso na Suíça”, conta.
Tempos modernos
Com o 25 de Abril as portas abriram-se definitivamente a toda a clientela e a casa ganhou grande centralidade na vila, famosa pela procissão dos chocalhos que se realiza todas as Páscoa na noite do sábado de Aleluia e, de há 12 anos para cá, pela Universidade de Verão do PSD.
Já que andamos por aqui, fazemos alguma investigação: parece que a vila alentejana foi escolhida para o evento anual da Juventude Social-Democrata, que ali acontecerá mais uma vez no final deste mês (de 24 a 30), porque os organizadores procuravam um lugar isolado no Interior do país, em que os jovens participantes pudessem estar concentrados.
E depois o Hotel Sol e Serra, que todos os anos acolhe os participantes e os seniores do partido e é propriedade do grupo do empresário castelo-vidense Fernando Barata, oferecia uma boa relação qualidade-preço. O hoje secretário-geral adjunto do PSD Matos Rosa, de Portalegre, terá também insistido que que se dinamizasse aquela região.
Certo é que pela altura do evento o hotel já está reservado para os sociais-democratas, o que ainda por cima reduz um bocado as hipóteses hoteleiras para quem quer ir ao Festival do Crato, que acontece pela mesma altura e já trouxe clássicos como os Beach Boys ou os UB40 ao Alentejo. Este ano os destaques são Tom Odello, Black Mama, Marcelo D2 e Guano Apes.
Haja maior ou menor procura, no Hotel Sol e Serra não há mesmo quartos: ainda que fiquem livres, estão todos reservados para o partido.
Feita aqui esta pequena pequena deambulação histórico-turística, percebe-se porque é que pela esplanada do Central têm passado ao longo dos anos várias figuras ligadas ao PSD – nos últimos tempos Passos Coelho, Nuno Crato ou Poiares Maduro –, mas já mais de uma vez Marcelo Rebelo de Sousa. Clientes que também deixam saudade à casa, e possivelmente ao resto da terra, ficaram ali quase um ano: o elenco da novela da TVI “Louco Amor”, rodada em Castelo de Vide há três anos. “Isto até parecia Hollywood”, lembra António Ludovino. Simone de Oliveira, Ruy de Carvalho, José Raposo e Hélder Agapito são algumas das caras que mais recorda.
Tirando estes acontecimentos, e os eventos mais turísticos que animam a vila bem arranjada e com umas piscinas bastante procuradas não só pela miudagem local mas também por muitas famílias espanholas que vêm passar os fins- -de-semana ao lado de cá da fronteira, é incontornável para a família Ludovino que o negócio já teve melhores dias.
“Dantes vendíamos 22 barris de cerveja por semana e agora é no máximo dois ou três.” Já tiveram seis empregados e agora são apenas dois, o que chega bem para a maior parte do ano, em que ainda assim os melhores dias são as sextas, quando o pessoal do campo vem à vila.
Por causa dos fiados e das chatices, nestes anos de crise deixaram de vender tabaco. Adaptou-se a ementa ao gosto dos turistas, com os pratos em conta e os combinados, como sopa e bifana, mas a especialidade da casa é a mesma há 30 anos: boleima de maçã, feita desde sempre pela mesma senhora. O bolo com massa de pão, maçã, açúcar e canela vende-se em muitas casas das redondezas mas ali vale bem as calorias. E com o calor que faz sempre de Verão por estas bandas queimam-se num instantinho”.

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